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  • Foto do escritorInês Cruz

Autocontrolo... As crianças nórdicas e as portuguesas. Para pais de filhos dos 0 aos 80!

Atualizado: 14 de mai. de 2018

Há muitos anos lembro-me dos meus pais dizerem que educar os filhos era uma caminhada.

E contavam que começamos por levá-los ao colo, no aconchego dos nossos braços, no calor do nosso peito, no abraçar dos nossos corpos.

Depois caminhamos na frente deles, desviamos os obstáculos, evitamos as quedas e os buracos. Ensinamos a ultrapassar dificuldades e a saltar problemas.

Mais tarde caminhamos ao lado deles.

Estamos lá! Ajudamos nas opções de tomadas de decisão, ouvimos, damos a mão, fazemos caminho lado a lado.

Numa outra fase caminhamos atrás deles.

Deixamos que ganhem ritmo. O seu ritmo. Ganhem asas. Aprendam o verbo ir. Decidam e sejam responsáveis pelas decisões tomadas.

Mas sabem que sempre que formos necessários estamos lá. Perto! Com uma mão meiga no ombro. Com os ouvidos disponíveis e os conselhos atentos. Estamos sempre lá!


Em que fase estamos com cada um dos nossos filhos?

Ao ler sobre parentalidade nórdica voltei a encontrar uma ideia que me fez relembrar conversas com os meus pais, como esta caminhada em quatro fases.


Dizia a diretora de uma fundação vocacionada para a educação que “Caminhar ao lado dos nossos filhos consiste essencialmente em estarmos lá para eles”.

Com esta ideia podia voltar a escrever sobre o nosso tempo (ou a falta dele), do foco que temos de ter no que gostamos, na hierarquia das nossas prioridades... mas hoje o tema é o autocontrolo.


Autocontrolo é mais do que a capacidade de se controlar, como surge em alguns dicionários portugueses. Autocontrolo é a capacidade de pensar no que fazer ANTES de fazer, como defendem os nórdicos (e alguns portugueses também!)


Não tem tanto a ver com controlo (das emoções) mas antes escolher o que é certo para nós. Pensando no aqui e agora e pensando no aqui e depois.


Segundo estudos realizados nos países nórdicos a nossa capacidade de autocontrolo é ainda melhor que a inteligência que temos. Melhor e mais importante no nosso caminho e no nosso sucesso.

(Aqui devíamos parar para reler o último parágrafo... andamos tão preocupados com os resultados académicos dos nossos filhos - a dita inteligência, para muitos pais - e descuramos a aprendizagem do autocontrolo... não estaremos com as prioridades alteradas?)


Durante muitos anos a inteligência foi considerada uma das condições mais importantes para o sucesso. Hoje sabemos que a inteligência não é garantia de sucesso. Mas o autocontrolo é uma ferramenta de importância extrema com resultados surpreendentes em quem a adquire, quer em termos pessoais quer profissionais, e quanto mais cedo se desenvolver melhor.


Atualmente sabemos que é esta capacidade - de gerir a luta entre a escolha da tarefa fácil e a tarefa difícil - que fará a diferença no sucesso dos nossos filhos, na escola, na sala de aula, nas aulas de matemática 😊 e durante o resto das suas vidas.


Sabe-se também que as crianças com melhor autocontrolo serão adultos mais felizes, com maior auto estima, mais saudáveis e que vivem mais anos do que as crianças que não têm autocontrolo desenvolvido.


Ou seja, o autocontrolo é determinante para o sucesso dos nossos filhos!


Precisamos de ajudar os nossos filhos (os nossos alunos) a pensarem antes de agir.

A medirem as consequências das atitudes que têm mas sobretudo a pensarem antes de as tomarem.

A saberem ter paciência e ouvirem os colegas mesmo que o que estes estejam a dizer, no ponto de vista dos nossos filhos, seja pouco acertado.

A ouvirem o professor mesmo que a disciplina não seja a sua favorita.

A saberem escolher entre o que é mais difícil (estudar numa tarde de domingo quando há necessidade) e o que é mais fácil (ver televisão).

Fazê-los perceber, por eles, que há dificuldades que fazem parte da vida.

Que ninguém aprende, por exemplo, a apertar atacadores se não se esforçar. Tentar. Falhar. Uma. Duas. Vinte vezes. (E nós pais não podemos comprar só calçado de velcro para lhes facilitar a vida porque isto não ensina a resolver problemas, ensina a encobrir problemas).


O autocontrolo que hoje falta em muitos dos nossos alunos é das características mais importantes na vida deles e há décadas que os países nórdicos se esforçam por desenvolver esta competência nas suas crianças.


Já ouvimos pais e professores dizerem que a criança “é uma cabeça” mas (lá vem o mas) não se autocontrola e em algumas situações acaba a precipitar-se com os amigos, a ter reações erradas, utiliza linguagem desadequada, descontrola-se emocionalmente, ou fica afetado nos momentos de avaliação.

Se nós pais aceitarmos estas quatro fases e não ficarmos retidos na primeira ou na segunda fase até eles terem 20 anos, se nos preocuparmos, enquanto ainda estamos nas duas primeiras fases, em desenvolver o autocontrolo da criança, nas fases seguintes será mais fácil dar continuidade a esse esforço. Porque é um processo que não termina e que pode sempre ser iniciado ou melhorado, por isso nunca se dá por ultrapassado. Mas naturalmente a dada altura na terceira fase passa a ser responsabilidade exclusiva dos nossos filhos. Eles têm de desenvolver o seu autocontrolo e trabalhar esta competência.

Será mais fácil para eles o percurso de vida. Será melhor para nós. Seremos todos mais felizes e todos nos sentiremos efetivamente mais realizados e bem sucedidos.


Se o autocontrolo faz falta na aula de matemática? FAZ! Nem imagina quanto!!



Podemos ler este artigo pensando em nós ou nos nossos filhos. Provavelmente lemos e pensamos na nossa perspetiva de pais. E se agora o relermos na nossa perspetiva pessoal?



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